terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ativismo animal e a arrogância humana.

Recentemente um grupo de pessoas adentrou um instituto que faz experiências com animais e , com pena dos cachorros da raça Beagle os "resgatou". No facebook houve muita comoção, muita gente aclamando-os como heróis e apoiando a causa.
Então começaram as notícias das consequências. Animais foram abandonados nas ruas e até anunciados na internet para venda.
Há muitas considerações sobre o caso, comecemos com estas, o abandono e a venda. Tanto um como a outra denotam que muitos "ativistas" tinham como meta somente aparecer. Ah, diriam eles, aparecer é o objetivo, dá maior visibilidade à causa, angaria simpatias, simpatizantes e participantes. Sei... então abandonar os animais e vendê-los (mais dinheiro para a "causa"?) seriam baixas aceitáveis, como numa guerra? Então qual a diferença entre ativistas e pesquisadores se ambos aceitam um mal supostamente menor para um bem alegadamente maior?
Há mais: os cães estavam em ambiente controlado (os supostos maus tratos não foram sequer vislumbrados, apenas canis com fezes, o que não significa nada, já que muitos bichinhos acabaram sujando o local porque ficaram assustados com a invasão), e foram tirados sem qualquer precaução de saber qual experimento era realizado em cada um. É bem provável que alguns animais tenham adoecido e mesmo morrido devido à retirada deles do instituto. Não houve qualquer logística, planejamento ou mesmo cuidado com os cachorros. Parece coisa de papo de bar, como se no dia anterior um bando de boêmios pseudo intelectuais, no meio da bebedeira resolveu "salvar os beagles" por não ter coisa melhor a fazer.
Há, ainda, o mérito da questão de que testes em animais são, em si, uma coisa ruim. O ser humano só tem esta longevidade nos dias atuais em razão dos testes em animais. Os soros antiofídicos continuam sendo preparados com a inoculação em cavalos. A argumentação de que as reações dos testes em animais não é a mesma que em humanos não procede, já que há muitos aspectos a serem verificados, um medicamento não é criado do nada e está pronto para ser testado. Há uma série de etapas a serem seguidas. Falar em se fazer testes em humanos resultaria numa ineficácia na medida, já que tem-se de controlar o indivíduo testado até o final de seu ciclo de vida. Não se pode, por exemplo, fazer testes em papagaios ou tartarugas, os resultados demorariam muito, do mesmo modo que nos humanos.
Mas o pior de tudo é a arrogância. Os ativistas acham que têm de cuidar da Natureza para que ela não seja destruída. Esquecem-se que fazemos parte da natureza. Não somos mais nem menos. Por mais que se tente acabar, mesmo se tivesse havido a famigerada hecatombe nuclear tão temida há algumas décadas a Natureza permaneceria. Ela tem ciclos, e nós estamos somente em um deles. Não somos sequer um jardineiro para tomar conta do meio ambiente. Efeito estufa? Sempre existiu, de tempos em tempos. Só que o homem se recusa a ver quão pequena é sua participação nas coisas e que somos apenas uma engrenagem que altera muito pouca coisa no que tange a espaços de tempo realmente significativos.
Então, quando se diz que se quer salvar animais, seja da extinção ou de maus tratos, o que se objetiva, na realidade, é demonstrar o quão superior é o homem a estes seres indefesos. Mas, como eu disse, a natureza é cíclica, aquecimento, resfriamento, movimentação de placas tectônicas, tudo isto continua em curso, apesar de acharmos que nossa vidinha é perene. Os dinossauros dominaram a superfície terrestre por muito mais tempo que nós e foram extintos sem nossa participação, nem havia um homo sapiens para se acusar.
Claro que, por uma ética que criamos, torturar animais é algo inaceitável. Mesmo assim nunca vi ser invadida uma arena de touros ou de rodeios, acho que os ativistas não têm coragem para isto. Mas se há um parâmetro para se seguir este o o da sobrevivência, afinal isto sim é o natural. Sempre foi e sempre será assim, os animais (não somos mais que isto) têm de fazer tudo para permanecer como espécie. Se isto incluir testes em animais, por mais fofinhos que sejam e não houver alternativa é exatamente isto o que vai continuar a ocorrer.